Uma equipe de pesquisadores internacionais se prepara para perfurar o coração do vulcão Krafla, no norte da Islândia, para criar o primeiro observatório subterrâneo de magma do mundo. Com sua grande cratera de água turquesa, nuvens de fumaça e intenso borbulhamento de lama e gases, a estrutura geológica é uma das mais impressionantes maravilhas naturais do planeta.
Lançado em 2014 e com a primeira perfuração prevista para começar em 2024, o projeto de US$100 milhões envolve cientistas e engenheiros de 38 institutos de pesquisa e empresas em 11 países, incluindo os EUA, Grã-Bretanha e França.
De acordo com a agência de notícias AFP, a equipe do “Krafla Magma Testbed” (KMT) – algo como “Bancada de testes de Magma do Krafla” – espera perfurar até 2 km de rocha para alcançar uma camada desconhecida do vulcão. Ao contrário da lava expelida acima do solo, a substância derretida sob a superfície ainda é um mistério.
KMT será crucial para previsão de erupções e cálculos de risco
Segundo Paolo Papale, vulcanologista do Instituto Nacional Italiano de Geofísica e Vulcanologia (INGV), o KMT é o primeiro observatório de magma do mundo. “Nunca observamos magma subterrâneo, além de encontros fortuitos durante a perfuração em vulcões no Havaí e no Quênia, e no próprio Krafla, em 2009”, revelou.
Os cientistas esperam que o projeto proporcione avanços na ciência básica e na chamada “energia geotérmica de rocha superquente”. Eles também esperam obter mais conhecimento sobre previsões e riscos do vulcão.
“Saber onde o magma está localizado é vital para estarmos preparados para uma erupção. Sem isso, somos quase cegos”, diz Papale.
Em 2009, uma broca atingiu um bolsão de magma de 900ºC por acaso, a uma profundidade de 2,1 quilômetros no vulcão Krafla. Imagem: AFPComo muitos avanços científicos, o observatório de magma é resultado de uma descoberta inesperada. Em 2009, quando engenheiros estavam expandindo a usina geotérmica de Krafla, uma broca atingiu um bolsão de magma de 900ºC por acaso, a uma profundidade de 2,1 quilômetros.
Segundo consta, muita fumaça subiu do poço, e a lava fluiu nove metros acima, danificando o material de perfuração. Mas, não houve erupção e ninguém ficou ferido. Os vulcanologistas perceberam que estavam ao alcance de uma bolsa de magma estimada em cerca de 500 milhões de metros cúbicos.
Eles disseram que ficaram surpresos ao encontrar magma tão raso, já que esperavam ser necessário perfurar a uma profundidade de, pelo menos, 4,5 quilômetros até que isso ocorresse.
Estudos subsequentemente mostraram que o magma detectado tinha propriedades semelhantes às de uma erupção de 1724, o que significa que tinha pelo menos 300 anos de idade. “Essa descoberta tem o potencial de ser um grande avanço em nossa capacidade de compreender muitas coisas diferentes, que vão desde a origem dos continentes até a dinâmica dos vulcões e sistemas geotérmicos”, afirma Papale.
Perfuração de vulcões é algo desafiador
A descoberta casual também foi importante para a Landsvirkjun, a agência nacional de eletricidade que administra o local. Tão perto do magma líquido, a rocha atinge temperaturas tão extremas que os fluidos são “supercríticos“, um estado intermediário entre o líquido e o gasoso.
Segundo a Landsvirkjun, a energia lá produzida é de cinco a 10 vezes mais poderosa do que em um poço convencional. Durante o incidente, o vapor que subiu à superfície era de 450ºC, a maior temperatura de vapor de um vulcão já registrada.
Dois poços supercríticos seriam suficientes para gerar a capacidade de 60 megawatts da usina, atualmente atendida por 18 poços. “Esperamos que o projeto KMT leve a novas tecnologias para perfurar mais profundamente e aproveitar essa energia que não podíamos fazer antes”, disse o chefe de operações geotérmicas e gerente de recursos da Landsvirkjun, Vordis Eiriksdottir.
No entanto, perfurar em um ambiente tão extremo é algo tecnicamente desafiador. “Os materiais precisam ser capazes de resistir à corrosão causada pelo vapor superaquecido, e a possibilidade de que a operação venha a desencadear uma erupção vulcânica é algo que naturalmente nos preocupa”, declarou John Eichelberger, geofísico da Universidade do Alasca em Fairbanks e um dos fundadores do projeto KMT.
“Mas, isso é cutucar um elefante com uma agulha”, disse Eichelberger. “No total, uma dúzia de perfurações atingiu o magma em três lugares diferentes do mundo e nada de ruim aconteceu”.
Fonte: Olhar Digital
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