Avanço do coronavírus se dá principalmente pelo sistema rodoviário. Há uma área de concentração no Sul e Sudeste com dispersão reticular sobre o Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
Interiorização da doença confirma que o país não chegou ao momento de falar em flexibilização das medidas de isolamento social, destaca geógrafo da USP.
São Paulo – Um estudo do Grupo de Geógrafos para a Saúde associa as condições geográficas do território brasileiro às possibilidades de expansão da covid-19 e alerta para a tendência de interiorização da doença. A expansão é comprovada em mapa desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Adolfo Lutz que integram o grupo.
A cartografia traz descrita toda a infraestrutura do país, a começar pela localização dos principais aeroportos nas capitais brasileiras. Mas identifica como o principal eixo de penetração da covid-19 a malha rodoviária. Mais ao norte, os geógrafos também observam uma porção ligada ao transporte hidroviário, considerado outro tipo de vetor da doença na região.
O mapa também agrega informações sobre as terras indígenas e áreas urbanas com aglomerações subnormais, como favelas e cortiços – territórios de maior vulnerabilidade ao coronavírus. Ao final, o resultado é a identificação da possibilidade de contágio e dispersão. Com uma área maior de concentração da doença principalmente no Sul, Sudeste e áreas mais próxima das faixas litorâneas do Nordeste, com dispersão em projeção reticular sobre o Centro-Oeste e Norte.
Interiorização da doença
“Estamos percebendo a tendência de interiorização da doença no Brasil”, reforça o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São paulo (USP) Wagner Ribeiro em sua coluna no Jornal Brasil Atual.
“Isso permitiria, evidentemente, tomar ações de precaução. Essa infraestrutura que eles cartografam já era conhecida. A pergunta é por que não se usa um instrumento dessa importância para já preparar esses polos todos?”, contesta o geógrafo.
Ao jornalista Glauco Faria, Ribeiro explica que o conhecimento dessa circulação seria fundamental para a elaboração de políticas públicas que evitassem maior propagação do vírus. Ao contrário disso, diversas cidades já começam a ver medidas de flexibilização do isolamento social, criticadas pelo professor da USP.
No eixo São Paulo
Ribeiro lembra que no estado de São Paulo, onde o governo João Doria (PSDB) apresentou o chamado Plano São Paulo, já há dois meses os pesquisadores da Unesp alertaram sobre o sistema rodoviário. De acordo com o grupo, as grandes cidades têm a possibilidade de ampliar o fluxo da doença para os pequenos e médios municípios.
Agora, o plano estadual, embora apresente os números da doença e a disponibilidade de leitos na região, desconsidera esses eixos de penetração. O que, segundo Ribeiro, pode agravar o quadro da covid-19 nas cidades.
“É uma situação em que você tem que ponderar três aspectos fundamentais: primeiro, estamos já no decréscimo de novos casos? Tudo indica que infelizmente não. Segundo aspecto, qual que é a capacidade de transmissão? Isso (é melhor), quanto mais perto de 1. Mas nós ainda não chegamos nesse número ainda, estamos em números elevados. Cada indivíduo está transmitindo para duas, três, quatro pessoas”, pontua. “E, terceiro, a própria infraestrutura de saúde, nós estamos com indicadores mostrando que algumas situações, 80% e 90% dos leitos ocupados. O que é muito preocupante.”
“Nós estamos muito longe desses números e estamos voltando com atividades presenciais e de contato social. Isso certamente pode gerar um novo pico da pandemia. E diante disso o recado é que, apesar dessa flexibilização, fique em casa”, alerta.
Confira a entrevista
Por Redação RBA
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