Para um vestibulando, estar em dia com o mundo é tão importante quanto ser bom em história. Saber o que acontece hoje pode ser fundamental para não se assustar com uma questão sobre fatos que ocorreram há 20, 30 ou 100 anos.
Nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os enunciados abordam, tradicionalmente, temas contemporâneos. No concurso deste ano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as atualidades foram bastante exploradas nas provas de biologia, química e geografia.
Relembrando: marcaram presença no concurso da federal o leite batizado com ureia (e essa história continua...), a contaminação do ambiente em Fukushima, a extração de areia no Rio Jacuí, os dados do Censo 2010, o leilão da exploração de petróleo no campo de Libra e até os engarrafamentos na BR-116.
É nas provas de geografia e história que o conhecimento de fatos recentes, que movimentaram o mundo e o noticiário, costuma ser mais determinante para a correção da resposta.
— As provas do Enem têm mais contextualização com o que ocorre hoje, especialmente no Brasil. Na UFRGS, a prova de geografia é a que faz mais links de conteúdos com a situação atual do Brasil. Em história, a UFRGS busca relacionar conflitos atuais com fatos anteriores — explica o professor de história Zé Tamanquevis, do Grupo Unificado.
Como o estudo de temas atuais se faz no dia a dia, separamos, com a ajuda do próprio Zé e dos professores de geografia Saul Chervenski e César Martinez, seis temas que já eram ou despontam como conteúdos relevantes para quem se candidata a uma vaga no Ensino Superior.
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Mal-estar na Venezuela
O governo chavista de Nicolás Maduro enfrenta pressões de setores populares e da extrema direita, que quer assumir o poder no país. Há uma crise no fornecimento de serviços básicos, como alimentação. Dificilmente uma prova cobra a crise em si — normalmente, ela serve de pretexto para abordar questões maiores. É importante lembrar que Brasil e Venezuela são os países que descobriram as maiores reservas de petróleo no mundo nos últimos 20 anos. Além disso, o país de Hugo Chávez é a maior reserva individual do combustível do planeta. As tensões repercutem na comunidade internacional.
Outro detalhe que ainda é pouco explorado em provas é a União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Brasil, como principal na nação do bloco, tenta, ao lado de outros países, garantir a legitimidade do governo venezuelano.
César Martinez, professor de geografia
O Acre em "novo" fuso
Em 1913 o Brasil possuía apenas um fuso horário prático. No mesmo ano, uma lei federal ampliou para quatro o quadro de fusos horários no país. Em 2008, nova alteração: uma outra lei reduziu para três o número de fusos horários. O estado do Acre, que estava no fuso de duas horas a menos que a hora oficial (Brasília), foi incorporado ao fuso de uma hora a menos que a hora oficial.
Em 2010 um referendo no Acre mostrou que 56% dos eleitores queria voltar ao antigo fuso — por isso, em 2013 uma nova lei estabeleceu que o Acre e parte do estado do Amazonas voltaram a ter duas horas de atraso em relação a Brasília. É fundamental que os alunos se atualizem nesse conteúdo, pois é dos que mais aparecem em provas. Mas atenção: as comparações são relativas ao período sem horário de verão, do qual nem Acre ou Amazonas participam.
Saul Chervenski, professor de geografia do Unificado
Economia argentina
A turbulência econômica em que a Argentina está imersa é bem representada pela desvalorização recente sofrida pelo peso — a maior em um único dia dos últimos 12 anos. A queda acumulada é de 8,43% ao ano. A derrubada da moeda é uma manobra do governo, que tenta evitar a fuga de dólares e o agravamento da crise. O momento por que passa a Argentina já respinga no Brasil — vide a retenção crescente das exportações de produtos do Rio Grande do Sul.
Ainda maior do que a desvalorização do peso é a subsequente alta dos preços de combustíveis, alimentos e uma série de outros produtos. Os salários, no entanto, não têm acompanhado a inflação, e a defasagem nos rendimentos é outro problema. A inflação oficial está em torno de 10% , mas são números maquiados a favor do governo de Cristina Kirchner: a inflação real passa dos 25% ao ano.
Zé Tamanquevis, professor de história do Unificado
Ucrânia em crise
Impossível deixar de fora dos temas com maior probabilidade de aparecer no Enem e nos vestibulares: o conflito interno na Ucrânia e seus desdobramentos. A tensão interna no país inicia com decisão do governo ucraniano de rejeitar proposta de assinar um acordo de livre comercio com a União Europeia e a manutenção de relações comerciais com a Rússia. As manifestações conduziram à deposição do presidente Ucraniano Viktor Yanukovich e redirecionaram o foco da tensão para a Crimeia, território ucraniano autônomo que fez referendo de separação da Ucrânia e posterior reunificação com a Rússia — processo não reconhecido por Kiev e considerado ilegítimo pelos EUA e pela União Europeia. Esse tema mexe com antigos adversários na Guerra Fria, e é importante que o aluno continue acompanhando seus desdobramentos.
Saul Chervenski, professor de geografia do Unificado
Ciberativismo
O ciberativismo é um termo recente, mas muito relevante na atualidade, que consiste na utilização da internet por grupos politicamente motivados que buscam difundir informações e reivindicações sem qualquer elemento intermediário com o objetivo de buscar apoio, debater e trocar informação, organizar e mobilizar indivíduos para ações, dentro e fora da rede. Com essas possibilidades, todos podem ser protagonistas de uma causa social, se conscientizar sobre um tema relevante, apoiar uma causa social. Os ciberativistas organizam, mobilizam, criam um público para ação e reação sobre determinado assunto. No período da Copa do Mundo, certamente iremos verificar grandes manifestações com o uso destas ferramentas.
Zé Tamanquevis, professor de história do Unificado
Mundo árabe em ebulição
A Crise no Mundo Árabe, ou "primavera árabe", que teve inicio em 2010, é tema que merece atenção, pois os eventos relacionados continuam em evidência, principalmente na crise política no Egito e no conflito interno da Síria. As provas têm destacado a importância das redes sociais, tanto na organização dos protestos, quanto na agilidade de divulgação das imagens dos enfrentamentos. É fundamental o aluno saber identificar esses países no mapa, assim como entender os motivos que conduziram a diversos eventos na região, desde pacíficas manifestações populares até sangrentas batalhas.
Saul Chervenski, professor de geografia do Unificado